20.1.13

O Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras tem um projecto intitulado Falso Movimento - Estudos Sobre Escrita e Cinema, cujo site oficial pode ser consultado aqui: falso-movimento.com.

Entre outras coisas (para saber, é consultar o site), trabalha-se aí numa antologia em português dedicada a Serge Daney.

Porém, o que me interessa aqui é o tumblr associado ao projecto - espécie de repositório de fotogramas que inventaria modos diversos de figurar a escrita em cinema. É sem dúvida o melhor blogue obsessivo cinéfilo de 2012, e merece ser divulgado:


Agora é a tua vez.

24.12.12


No cinema,
Natureza variável
Das imagens,
Nada se perde
Ou cria,
Tudo se transforma:
Cada filme, no seu perfil
Incerto,
Metamórfico,
É já infindas formas, ao sonhá-las.

Kimfi Trondirsafi, "Lavoisier", em O sonho nórdico do cinema. Tradução livre minha.

16.12.12


A imagem de cinema nunca é imagem. E depois há a imagem do blogue, que não pode chorar. E o blogue está triste porque nunca será cinema.

2.12.12

 Perdido o original, substituto-retrato é o menos cópia.

http://apaladewalsh.com/2012/11/28/a-outra/

Ela sai do quarto e, antes de descer, detém-se em frente do retrato da Caroline. Sorri para si mesma, como se verificasse a semelhança.
Lembro-me do que pensei exactamente há um ano: uma Caroline de Winter que voltou do mundo dos mortos. Talvez ela pense o mesmo.
Estamos as três aqui e tenho a impressão de que só Caroline é real, nós somos outra coisa, um ser que ainda não existe e um que se recusa a deixar de existir. E, meu Deus, como a mulher do quadro é mais autêntica[.]
Ana Teresa Pereira, O Verão selvagem dos teus olhos.

11.11.12

A pele em que habitam. Ifigénia e Vera estão na prisão, por vontade dos deuses e monstros. Sofrem muito, na solidão, longe da família (e da humanidade) que amam e da qual precisam para serem. Encarceradas e expatriadas (da humanidade), vivem «uma vida que não é vida» (Ifigénia), estão incompletas. A beleza disto é encontrarem na barbárie a humanidade que lhes permitirá a ascensão (que não é bem uma ascensão, mas mais regresso ao nível zero [o perfeito] do humano). Por via do sofrimento, vivido no silêncio que as possibilita buscarem em si mesmas a salvação (viva a espécie, o Homem, camaleão multiforme!), adquirem uma completude (por via da inteligência) que lhes permite atingirem um grau de lucidez extremo, sem o qual as suas narrativas não poderiam chegar a bom porto. No processo, não obstante as mazelas, aprenderam a domar o instinto, a agir em vez de reagir, em suma, a viver inteligentemente, em suma, a ser o que um ser humano deve ser, em suma, a não serem bestas. Parabéns.

23.9.12

http://apaladewalsh.com/
Lifelike.
 
 

Ela trazia nas orelhas umas argolas de mau gosto. Tinha as unhas pintadas. A outra Madeleine era tão mais requintada! Scottie tinha a sensação de estar a ver um filme mal dobrado, com uma actriz menor perdida no papel da vedeta. [...] O penteado da nova Madeleine não era elegante, e tinha uma boca descorada, apesar dos cremes e da pintura. Mas era quase preferível assim. Já não o assustava. Ele ousava aproximá-la de si, senti-la viva, da mesma vida que ele. Chegara a temer vagamente estar a abraçar uma sombra.
Boileau-Narcejac, D'entre les morts, apud. Victor Stoichita, O Efeito Pigmalião

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